Um novo estudo indica que 31% dos trabalhadores da indústria do vestuário em Bangladesh foram substituídos por máquinas, principalmente no processo de corte.
Fonte: Portugal Têxtil –https://portugaltextil.com/automatizacao-esta-a-substituir-mao-de-obra-na-itv-do-bangladesh/
O relatório, intitulado “Avaliação da transição tecnológica no setor do vestuário em Bangladesh e seu impacto nos trabalhadores”, realizado pela Solidaridad Network Asia, Bangladesh Labour Foundation e Universidade BRAC, conclui que a automatização levou a uma diminuição de cerca de 31% na força laboral da indústria do vestuário do país, com os trabalhadores não qualificados sendo os mais afetados. Revela ainda que houve impactos positivos, como o aumento da produção, a melhoria na qualidade e maior eficiência das tarefas.
Apesar de a automatização ter contribuído para o crescimento econômico e tornado as fábricas mais produtivas e rentáveis, Shahidur Rahman, professor de economia e ciências sociais da Universidade BRAC, alerta que este avanço criou simultaneamente desafios significativos para os trabalhadores, especialmente para as mulheres, os trabalhadores mais velhos e aqueles com baixos níveis de alfabetização. No entanto, sugere que, particularmente em fábricas de maior dimensão, a automatização pode gerar novas oportunidades, permitindo atribuir funções mais interessantes aos trabalhadores.
Atualmente, das dez fases de produção, apenas três – a fiação, a tinturaria e a preparação de tecidos acabados – são totalmente automatizadas, acrescenta o professor. A pesquisa foi realizada entre agosto e outubro de 2024, em Daca, capital do país, Gazipur e Narayanganj, e de um total de 419 trabalhadores entrevistados, 85% destacam a redução do esforço físico como um benefício da introdução das máquinas automatizadas.
Esta execução automática tornou as fábricas mais eficientes uma vez que «permite que os fabricantes acompanhem as métricas de produção, a utilização de energia e os calendários de manutenção em tempo real, apoiem as operações just-in-time e reduzam o desperdício», afirma Shahidur Rahman. Além disso, tendo em vista que os ciclos de produção se tornaram mais rápidos, as horas extras semanais desceram de uma média de 20 para 11 horas.
Porém, o impacto no emprego foi significativo, especificamente no departamento de corte, onde houve a maior perda de postos de trabalho, que atingiu os 48%. A seção de costura também foi afetada, tendo em vista que 26,5% dos trabalhadores foram substituídos. Em relação aos segmentos mais afetados, a produção de camisolas registrou uma redução da mão-de-obra de 37% por linha de produção, seguindo-se a tecelagem, que registrou uma queda de aproximadamente 27%.
Melhorar a produtividade
Miran Ali, membro do Comitê de Apoio da Associação dos Produtores e Exportadores de Vestuário de Bangladesh (BGMEA), ressalta que a eficiência dos trabalhadores na confecção de pronto-a-vestir tem sido afetada por falhas externas, como a falta de energia, o congestionamento dos portos e o trânsito rodoviário. «Se conseguirmos resolver estas questões, a eficiência dos trabalhadores será superior ao nível atual. Devemos trabalhar para melhorar estas ineficiências para que os trabalhadores não sofram com isso. A indústria não vai adotar totalmente a automatização, mas há potencial para adotar a automatização parcial, que pode ajudar a melhorar a produtividade e a segurança sanitária dos trabalhadores», explica, citado pelo Dhaka Tribune.
O secretário do Ministério do Trabalho e do Emprego de Bangladesh, AHM Shafiquzzaman, refere que entram anualmente 2,5 milhões de pessoas no mercado de trabalho e que, «para melhorar a eficiência dos trabalhadores, a adaptação às novas tecnologias é obrigatória. Estamos planejando promover o emprego através do desenvolvimento tecnológico. Adotaremos a política necessária para desenvolver os recursos humanos em conformidade com o desenvolvimento tecnológico para satisfazer as necessidades da indústria».
O estudo recomenda uma abordagem coordenada por parte das fábricas com as instituições de formação, marcas, compradores, associações empresariais, governo e parceiros de desenvolvimento, para garantir que a automatização beneficia todos os envolvidos na indústria. Aconselha ainda que o governo desenvolva um plano nacional de ação para uma transição justa, dando prioridade ao bem-estar dos trabalhadores, incluindo a criação de emprego, o desenvolvimento de competências e a segurança social para as pessoas afetadas pela automatização.