A produção de algodão do país deve alcançar 6,81 milhões de toneladas na safra 2024/2025, impulsionada pelas condições favoráveis em Xinjiang, enquanto as tarifas impostas por Pequim reduzem a demanda dos EUA.
Fonte: Portugal Têxtil – https://portugaltextil.com/china-concentra-se-na-procura-interna-do-algodao/
De acordo com um novo relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que analisou o setor do algodão chinês e seu padrão comercial com parceiros norte-americanos, a produção de algodão da China vai aumentar, embora as importações dos EUA tendam a cair, segundo o Just Style. A imposição de tarifas aduaneiras por Pequim provavelmente vai «praticamente parar as importações dos EUA», indica o relatório.
Analisando especificamente a China, o relatório prevê uma produção de 6,81 milhões de toneladas na safra 2024/2025, em comparação com a estimativa de 5,9 milhões de toneladas em 2023/2024. Este aumento é justificado pelas condições climáticas favoráveis durante a temporada de cultivo e colheita na província de Xinjiang, que resultaram em rendimentos acima do esperado e um volume significativamente mais elevado de algodão descaroçado na região.
No entanto, para a safra 2025/2026, a produção deve recuar cerca de 5%, já que a previsão do ano anterior foi positivamente afetada pelas condições meteorológicas. O relatório destaca ainda que, enquanto Xinjiang deverá continuar a aumentar sua produção, outras regiões da China poderão enfrentar reduções devido a subsídios limitados, menor qualidade, custos de produção mais altos e concorrência de outras culturas agrícolas.
Prevê-se que o consumo de algodão na China cresça à medida que Pequim busca estimular o consumo interno e as empresas têxteis e de vestuário chinesas procuram destinos de exportação adicionais para seus produtos.
As exportações de têxteis e vestuário aumentaram 2,8% em 2024 em relação ao ano anterior, impulsionadas pela melhoria das condições do mercado global durante o último trimestre do ano, mas a previsão para a temporada 2024/2025 é de queda, devido às tensões comerciais em curso e à incerteza do mercado global.
O USDA considera também que os preços competitivos do algodão no mercado interno vão reforçar a indústria de fiação nacional e que as políticas de incentivo vão ajudar a demanda interna de produtos têxteis e de vestuário na segunda metade da safra.
O impacto nos EUA e o domínio de Xinjiang
Sheng Lu, professor de estudos de moda e vestuário na Universidade de Delaware, analisou os dados revelados pelo relatório e concluiu que as tarifas aduaneiras de retaliação da China poderão ter um impacto significativo nas exportações de algodão dos EUA. Face às tensões geopolíticas e à crescente concorrência de outros fornecedores como o Brasil, as exportações de algodão dos EUA para a China caíram 73% nos primeiros sete meses da safra 2024/2025 (entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025), resultando numa diminuição da quota de mercado dos EUA para 17,1%. Durante o mesmo período da safra anterior, a quota de mercado americana foi de 29,6%.
O professor sublinha que Xinjiang continua a dominar a produção de algodão na China e que, mesmo com a Lei de Prevenção do Trabalho Forçado Uigur, a região foi responsável por cerca de 92,3% da produção total do país durante a temporada 2024/2025, registrando um crescimento anual de 11,4%.
Embora as empresas têxteis e de vestuário de grande escala na China tenham deslocalizado alguma produção para o Sudeste Asiático, as empresas de pequena escala, com recursos limitados, poderão ter dificuldade em se adaptar, explica Sheng Lu. Além disso, de acordo com o USDA, citando fontes do setor, a margem de lucro nas exportações de vestuário da China para os EUA poderá ser de 10% ou mesmo inferior e «os produtores de têxteis estabelecidos vão enfrentar custos acrescidos e encargos administrativos para todos os valores de importação, potencialmente perturbando suas cadeias de suprimento e reduzindo as margens de lucro» devido à recente alteração da regra de minimis.