Novembro 4, 2024

Como uma Administração Harris ou Trump vai afetar a Europa

Os cenários de vitória de Kamala Harris ou Donald Trump apresentam diferentes caminhos para o futuro político, econômico e ambiental do país, com impactos globais, especialmente na Europa.

As eleições presidenciais nos EUA poderão trazer implicações significativas para a Europa, segundo análises da Goldman Sachs e da GlobalData, que destacam as mudanças previsíveis na economia e na política ambiental em relação às posições dos candidatos.

Fonte: Portugal Têxtil – https://portugaltextil.com/como-uma-administracao-harris-ou-trump-vai-afetar-a-europa/

Os cenários de vitória de Kamala Harris ou Donald Trump apresentam diferentes caminhos para o futuro político, econômico e ambiental do país, com impactos globais, especialmente na Europa. Dependendo do resultado das eleições de 5 de novembro, a Europa poderá enfrentar pressões em áreas como comércio, segurança e condições financeiras, conforme antecipado pela empresa de estudos de mercado GlobalData, assim como pelos economistas do Goldman Sachs.

Segundo a GlobalData, caso Kamala Harris seja eleita, as políticas de reindustrialização e sustentabilidade dos EUA deverão dominar sua agenda interna. A atual vice-presidente pretende fortalecer a competitividade tecnológica dos EUA em relação à China e expandir as políticas da administração Biden, como o Inflation Reduction Act (IRA), o CHIPS and Science Act, e o Infrastructure Investment and Jobs Act. O investimento em uma economia “verde” seria combinado com incentivos para a construção de infraestruturas de energias renováveis, como redes de carregamento para veículos elétricos, além de investimentos em energia solar e eólica.

Para promover uma economia de oportunidade, a candidata democrata defende um aumento de impostos sobre as grandes fortunas e empresas, buscando aliviar a carga fiscal sobre a classe média e restaurar créditos fiscais para famílias com filhos.

Em matéria ambiental, Harris deverá adotar regulamentações mais rígidas sobre o setor tecnológico e nas políticas antitruste, visando controlar o poder das grandes empresas de tecnologia.

A nível global, Kamala Harris propõe fortalecer alianças com a Europa, buscando parcerias em tecnologias e cadeias de abastecimento para se afastar da dependência da China. Sua administração manteria o apoio à Ucrânia, embora a ajuda financeira e militar possa enfrentar resistência no caso de um Congresso dominado pelos Republicanos. A Rússia continuaria a enfrentar sanções, com Harris prometendo resistir aos esforços russos para alterar a arquitetura de segurança europeia.

Uma vitória de Donald Trump, antecipa a GlobalData, traria uma abordagem mais focada no nacionalismo econômico e na redução de impostos, reforçando as políticas implementadas em sua primeira administração. Com uma postura de “menos governo”, Trump promete reduzir os gastos em áreas como educação e concentrar os poderes das agências federais, como o IRS e a SEC, na Casa Branca.

As relações climáticas internacionais sofreriam um revés, com os EUA se retirando de compromissos globais sobre mudanças climáticas e priorizando fontes de energia como o gás e o nuclear.

Trump compromete-se a manter as isenções fiscais de 2017 e a considerar novas reduções de impostos para as empresas, visando um estímulo econômico de curto prazo. O retorno de restrições à imigração, incluindo potenciais proibições e deportações em massa, também estaria na agenda, refletindo sua política de controle rígido das fronteiras.

Impacto na Europa

Na newsletter Top of Mind de 21 de outubro, dedicada inteiramente às políticas econômicas pós-eleições, Jari Stehn, economista-chefe para a Europa da Goldman Sachs, faz uma análise do que pode mudar para a Europa em termos econômicos com cada um dos candidatos.

Se Kamala Harris vencer, indica, a política norte-americana deverá se manter alinhada ao status quo, com poucas mudanças no que diz respeito ao comércio com a Europa e à segurança. Uma vez que Harris propõe uma continuidade das políticas de Biden, a Europa veria uma continuidade no apoio à OTAN e aos esforços de segurança no continente, sem uma escalada de tensões comerciais. Neste cenário, a Goldman Sachs prevê que o impacto na economia europeia seria mínimo, oferecendo alguma estabilidade ao crescimento e às condições financeiras.

No caso de uma vitória de Donald Trump, a Europa poderá enfrentar uma série de desafios econômicos e geopolíticos, a começar pelo aumento das tarifas e da incerteza comercial. O candidato republicano propõe tarifas de 10% a 20% sobre importações globais, incluindo de países europeus, o que poderá gerar uma grande incerteza na política comercial. A Goldman Sachs sublinha que o crescimento econômico da zona euro pode sofrer, tal como aconteceu durante a guerra comercial de 2018-2019, em que a incerteza sobre tarifas prejudicou a economia europeia mais do que os aumentos tarifários propriamente ditos. Um aumento generalizado de 10% nas tarifas pode reduzir o PIB da zona euro em cerca de 1%, com impacto mais acentuado na Alemanha devido à sua maior dependência da indústria e das exportações.

A administração Trump também poderá reduzir o apoio militar dos EUA na Europa e, possivelmente, na Ucrânia, o que pressionaria os países europeus a aumentarem suas despesas de defesa para cumprir a meta de 2% do PIB estipulada pela OTAN. Esta necessidade de aumento no orçamento de defesa poderia implicar um custo adicional de 0,5% do PIB anual da União Europeia. Embora este gasto acrescido possa estimular a atividade em algumas áreas, a Goldman Sachs alerta que o efeito global no crescimento seria limitado, dada a baixa multiplicação do investimento militar e a subida dos juros de longo prazo devido a déficits elevados.

Caso Trump introduza cortes fiscais e desregulamentação nos EUA, o efeito na Europa poderá ser sentido através do aumento da demanda dos EUA e de alterações nas condições financeiras globais. A Goldman Sachs estima que o alívio fiscal nos EUA possa aumentar a atividade na zona euro em cerca de 0,1%. No entanto, a depreciação do euro em relação ao dólar deverá compensar parcialmente os efeitos da subida das taxas de longo prazo nos EUA.

No geral, o impacto de uma segunda administração Trump seria uma redução do PIB da zona euro em aproximadamente 1%, com um ligeiro aumento da inflação em 0,1 pontos percentuais. Esta pressão econômica, especialmente no crescimento, fortaleceria a probabilidade de novos cortes nas taxas de juros do Banco Central Europeu em 2025, com previsões de descidas adicionais de 30 a 40 pontos base.