Agosto 28, 2024

Dados de emprego e salário em julho podem reforçar apostas em nova alta da Selic

No mês de julho, o saldo ficou positivo em 188.021 vagas, contra um superávit de 201.705 mil vagas em junho.

Na expectativa pela próxima reunião do Copom decisão de juros, maioria dos agentes do mercado acredita que a taxa básica de juro subirá 0,25 ponto em setembro

Fonte: Valor Investe – https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2024/08/28/dados-de-emprego-e-salarios-em-julho-caged-apostas-alta-selic-juros.ghtml

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou perda de tração na criação de vagas com carteira assinada em julho. Mesmo assim, o ritmo não resfriou como o mercado previa. Por isso, o relatório envia sinais mistos a investidores e economistas, tornando mais complexa a interpretação do mercado de trabalho no Brasil, um dos principais pontos de atenção para o controle da inflação no país.

No mês de julho, o saldo ficou positivo em 188.021 vagas, contra um superávit de 201.705 mil vagas em junho. O ritmo saiu de uma aceleração de 52% na geração de postos entre maio e junho para uma desaceleração de quase 7% entre junho e julho.

Os dados divulgados no início da tarde desta quarta-feira (28) devem mexer com as apostas de gestores e investidores numa alta da Selic na próxima reunião do Banco Central (BC), em 17 e 18 de setembro.

  • Apesar do resfriamento do ritmo de criação de vagas, o número divulgado pelo Caged ainda ficou acima da mediana das projeções apuradas pelo Valor Data, que apontava para um saldo líquido de 183.100 postos de trabalho formal no mês passado. O intervalo das projeções era de superávit de 156.251 a 235.000 postos de trabalho em julho.

Enquanto investidores digeriam os números do relatório de empregos no Brasil, as taxas dos contratos futuros de juros (DI) apresentaram aceleração em toda a curva a termo, o que significa que mais agentes negociavam esses ativos apostando na Selic mais alta do que a previamente esperada nos curto, médio e longo prazos. No contrato para outubro de 2025, a taxa chegou a saltar quase 1 ponto percentual.

O salário médio de admissão em julho ficou em R$ 2.161,31, valor 1% acima da remuneração média em junho, de R$ R$ 2.138,37.

E este é potencialmente o maior risco dos dados publicados hoje, considerado que a criação de vagas também não desacelerou como esperado.

Com mais renda disponível, graças ao aumento dos salários, a população tende a consumir mais, o que cria pressões inflacionárias considerado o aumento da procura por produtos e serviços.

Como os preços de mercado se equilibram na equação de oferta e demanda, desconsiderados outros fatores, quanto mais compradores há de produtos e serviços, mais os preços sobem. Portanto, se a situação é inversa, há menos pressão sobre a inflação.

De acordo com o Termômetro do Copom (Comitê de Política Monetária), ferramenta do Valor Investe que mede as projeções para a decisão do comitê, desde meados de agosto, as perspectivas para entrada da Selic em um “mini ciclo contracionista” superaram às de manutenção da taxa.

Atualmente, 43% dos agentes acreditam que a taxa básica será elevada em 0,25 ponto na reunião de setembro. Outros 28,5% preveem manutenção da Selic em 10,5%, enquanto 26,4% enxergam alta de meio ponto nos juros, e os 1,4% restantes apostam em subida de 0,75 ponto.

Assim, a tendência é que o grupo que aposta na alta da Selic cresça marginalmente nesse curto prazo.

Isso aconteceria se mais agentes financeiros se convencerem pelos dados do Caged de hoje que as pressões inflacionárias do mercado brasileiro estão descontroladas. Este retrato obrigaria o BC a elevar a Selic para regular o ritmo de alta dos preços e, assim, preservar o poder de compra da população.

Mas isso, claro, apenas se consolidará se os próximos dados de inflação (como o IPCA de agosto, que será conhecido dia 10 de setembro) não reverterem a percepção desse cenário até o próximo encontro do Copom.

A inflação de demanda

A três semanas da próxima decisão de juros, o mercado de trabalho é um dos principais pontos de atenção para o BC. E esta mensagem vem sendo transmitida pelas últimas atas e reiterada em falas de diretores da autarquiaEm especial após investidores e economistas preverem inflação mais alta neste ano e em 2025.

Isso porque, aos olhos do BC, um mercado de trabalho em aceleração colabora para mais inflação e, portanto, pressiona para que o comitê promova alta nos juros e controle a disparada de preços.

Mas não é só o canal de inflação pela demanda que regula o ritmo dos preços de um mercado. Há também questões de ofertas. E, nesta ponta, especialistas mapeiam menos tensões.

“A oferta de energia e de petróleo estão fartas, e a safra está muito forte tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Isso significa que a pressão inflacionária por este canal de oferta parece controlada. Poderia vir alguma surpresa na ponta da demanda, mas não é o que vemos. Não há otimismo exacerbado atualmente nem demanda pujante de consumo no país. Muito pelo contrário. Por isso, acreditamos que o mercado pode estar exagerando nessa previsão de alta nos juros”, diz Caio Schettino, chefe de alocações da Criteria.

A equipe econômica do escritório de assessoria de investimentos projeta manutenção da Selic na próxima reunião do Copom.

Mas por que o mercado aposta no contrário?

Nos últimos meses, o ritmo de criação de vagas de emprego no Brasil veio surpreendendo pela sua resiliência mesmo em um ambiente de Selic já elevada, o que gerou preocupação por parte dos integrantes do BC sobre se o atual patamar dos juros seria suficiente para controle das pressões inflacionárias nesse novo ambiente.

Há ainda questões sobre a mudança na gestão do BC e da necessidade de o sucessor de Roberto Campos Neto na autarquia provar sua independência do atual governo.

Para isso, no indicativo de que o ritmo do mercado ainda pediria mais juros para controlar a alta dos preços, o novo presidente do BC deve mostrar ao mercado que fará novas altas na taxa para perseguir a meta de inflação, de 3% no acumulado em 12 meses.

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo 28/08/2024