Setembro 19, 2024

Exportação de fast fashion usada está poluindo Gana

Semanalmente, segundo a Greenpeace, aproximadamente 15 milhões de peças de roupa são recebidas em Gana, mas quase metade desse vestuário não é vendável.

Um novo estudo da Greenpeace afirma que quase metade das roupas usadas exportadas para Gana não está em condições de venda e acaba sendo descartada ou queimada, prejudicando o meio ambiente e a saúde pública.

Fonte: Portugal Têxtil –https://portugaltextil.com/exportacao-de-fast-fashion-usada-esta-a-poluir-o-gana/

O estudo, intitulado “Fast Fashion, Slow Poison: The Toxic Textile Crisis in Ghana” (Moda rápida, veneno lento: a crise têxtil tóxica no Gana), expõe o impacto devastador do vestuário descartado no Hemisfério Norte, grande parte dele proveniente da fast fashion, no meio ambiente, nas comunidades e nos ecossistemas do Gana.

Semanalmente, segundo a Greenpeace, aproximadamente 15 milhões de peças de roupa são recebidas em Gana, mas quase metade desse vestuário não é vendável. Muitas dessas roupas usadas acabam em aterros informais ou são queimadas em lavanderias públicas, o que tem levado a uma grave contaminação do ar, do solo e dos recursos hídricos, colocando em risco a saúde das comunidades locais, destaca a organização ambiental.

Amostras de ar recolhidas em lavanderias públicas no bairro de Old Fadama, em Acra, mostram níveis perigosamente altos de substâncias tóxicas no ar interno, incluindo agentes cancerígenos como benzeno e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs).

Testes com infravermelhos em vestuário descartado revelaram que quase 90% é feito de fibras sintéticas, como poliéster, contribuindo para a disseminação de microplásticos no meio ambiente.

A Greenpeace também destaca que a acumulação de resíduos têxteis está sufocando habitats naturais, poluindo rios e levando à criação de “praias de plástico” ao longo da costa.

«As evidências que recolhemos mostram que a indústria de fast fashion não é apenas uma questão de moda – é uma crise de saúde pública. As roupas que testamos estão literalmente envenenando o povo de Acra», afirma Sam Quashie-Idun, autor do estudo. «A situação no Gana reflete uma mentalidade neocolonial onde o Norte Global lucra com a superprodução e o desperdício, enquanto países como o Gana pagam o preço. É hora de um tratado global que aborde esse desequilíbrio e proteja as comunidades dos danos causados pela fast fashion», acrescenta.

«Este estudo é um alerta. O lixo tóxico despejado em Gana não é apenas uma questão ambiental, é um exemplo gritante de injustiça ambiental imprudentemente promovida pelo Norte Global. Marcas de moda e governos devem assumir a responsabilidade imediata pelos danos que seus resíduos estão causando em países como o Gana», sublinha Hellen Dena, da Greenpeace Africa.

Para os ativistas, «o governo ganês, juntamente com a comunidade internacional, deve apoiar o desenvolvimento de uma indústria têxtil local sustentável no Gana, que possa aliviar o problema do desperdício e, ao mesmo tempo, fornecer oportunidades econômicas», sustenta Sam Quashie-Idun.

Em resposta, a Associação de Revendedores de Roupas Usadas do Gana (GUCDA) criticou o estudo, e, segundo a Ecotextile News, descreveu o relatório como «sensacionalista». A associação questiona as conclusões e argumenta que o comércio de vestuário de segunda mão no Gana é «uma parte essencial da economia circular» que sustenta milhões de pessoas.