Com a produção caindo para 50% a 60% da capacidade habitual, a indústria têxtil e de vestuário da Turquia também enfrenta quedas nas exportações, concorrência crescente dos mercados asiáticos e africanos, além de altos custos internos.
Fonte: Portugal Têxtil – https://portugaltextil.com/itv-turca-esta-em-crise/
Segundo a agência de notícias turca Ekonomim, a indústria têxtil e de vestuário da Turquia, atualmente a quarta maior exportadora mundial de têxteis, está enfrentando um dos seus períodos mais difíceis das últimas décadas, conforme relata o Turkish Minute. A queda da produção, o aumento acentuado dos custos e a crescente concorrência internacional são apontados como fatores que pressionam o setor.
Ahmet Öksüz, presidente da Associação de Exportadores de Têxteis e Matérias-Primas de Istambul (İTHİB), afirma que a produção do setor caiu para 50% a 60% da sua capacidade habitual. O presidente da İTHİB descreve o estado da indústria como “profundamente preocupante”, destacando que os fabricantes nacionais estão sendo esmagados por fatores de produção caros e pela entrada de produtos importados mais baratos, o que enfraquece a base produtiva da Turquia e reduz sua competitividade global.
Em 2023, a Turquia exportou 11 bilhões de dólares (cerca de 9,7 bilhões de euros) em têxteis, uma queda de 10% em relação ao ano anterior. O segmento de vestuário também sofreu uma retração, com exportações no valor de 19,2 bilhões de dólares.
Ahmet Öksüz critica o uso indevido do Inward Processing Regime (DİR), um mecanismo comercial que permite que empresas importem matérias-primas com isenção de impostos, desde que sejam reexportadas. Segundo ele, muitas dessas importações estão sendo desviadas para o mercado interno sem fiscalização adequada, gerando concorrência desleal e perdas de receita. “É preciso um controle mais rigoroso. As autoridades deveriam, ao menos, exigir a coleta de amostras dos produtos e, idealmente, realizar inspeções nos contêineres para garantir a conformidade”, acrescenta Ahmet Öksüz.
Para conter esses desequilíbrios, o governo turco impôs tarifas alfandegárias adicionais por meio de um decreto presidencial emitido em outubro de 2023, estabelecendo taxas que variam entre 30% e 166,7%, dependendo da categoria dos produtos. No entanto, atualmente, a maior parte das importações de fios, tecidos e vestuário está sujeita a tarifas entre 13% e 39%.
Concorrência e custos elevados
Outro desafio apontado por Ahmet Öksüz é a crescente concorrência da Ásia Central, especialmente do Uzbequistão, que, com apoio estatal, passou da exportação de algodão em pluma para produtos acabados, aumentando suas exportações têxteis para 2,9 bilhões de dólares em 2024. Consequentemente, o Uzbequistão tornou-se um concorrente direto da Turquia em produtos como fio de algodão e vestuário.
Apesar do cenário difícil, o presidente da İTHİB demonstra otimismo em relação ao mercado dos EUA. Ahmet Öksüz defende um acordo comercial preferencial com os EUA, visando um objetivo bilateral de 100 bilhões de dólares, e destaca que, se parte das encomendas americanas for transferida da Ásia Oriental para a Turquia, as exportações têxteis podem crescer pelo menos 20%.
Toygar Narbay, presidente da Associação Turca de Fabricantes de Vestuário (TGSD), confirma que o setor registrou perdas em 2023, 2024 e nos primeiros quatro meses de 2025. Entre as principais preocupações estão o aumento dos custos trabalhistas, as altas taxas de juros e um câmbio desfavorável.
Entre 2022 e 2024, a inflação na Turquia subiu 138% e o salário mínimo 249%, enquanto a taxa básica de juros do banco central aumentou 258%. Conforme Toygar Narbay, as peças de vestuário produzidas na Turquia são atualmente cerca de 60% mais caras do que as da Ásia Oriental e 45% mais caras do que as dos países do Norte da África.
O setor também foi impactado pela perda de empregos. Estima-se que o número de trabalhadores tenha caído de mais de 1,3 milhão para menos de 1 milhão em 2024, com uma perda de 65 mil postos de trabalho apenas no último ano.
O presidente da TGSD alerta que, sem a intervenção do governo turco, muitas empresas poderão entrar em falência ou precisar recorrer a processos de reestruturação. Entre as propostas estão um incentivo de conversão cambial de 10% sobre as exportações líquidas, taxas de empréstimo reduzidas e um subsídio salarial de 2.500 liras turcas (cerca de 56 euros) por trabalhador. “Sem esses apoios, o setor terá dificuldades para se manter competitivo mundialmente. E seu declínio pode se refletir na economia exportadora da Turquia de forma geral”, destaca Toygar Narbay.