Os responsáveis da indústria de vestuário do país estão preocupados não só com as questões práticas, mas também com os efeitos da agitação social sobre a reputação e, consequentemente, a confiança dos compradores.
Fonte: Portugal Têxtil – https://portugaltextil.com/manifestacoes-no-bangladesh-abalam-confianca-dos-compradores/
A resposta do governo aos protestos de estudantes contra as quotas de emprego para descendentes de veteranos da guerra de libertação de 1971, incluindo repressão policial, corte da internet e toque de recolher, resultou em graves consequências para a indústria.
A agitação e a resposta do governo afetaram significativamente a produtividade das indústrias de vestuário do país, os seus fornecedores, serviços relacionados e clientes, devido ao encerramento de fábricas.
Ao Just Style, os empresários da indústria de vestuário afirmam que o corte da Internet e a subsequente perda de comunicação com os seus compradores estrangeiros afetaram gravemente a sua imagem e podem enfraquecer a confiança no Bangladesh como um centro de outsourcing.
«As nossas encomendas foram afetadas, não foi feito qualquer envio a partir do Bangladesh desde sábado. Devido ao apagão da Internet, as nossas comunicações com os compradores foram cortadas. Não houve progressos nas discussões sobre novas encomendas. Também não conseguimos partilhar informação sobre as encomendas em curso. Não sabemos como os compradores podem estar a reagir a isto», afirma, ao Just Style, Syed Nazrul Islam, vice-presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário do Bangladesh (BGMEA).
MA Jabbar, diretor-geral do DBL Group, um dos maiores produtores de vestuário do Bangladesh, classifica o corte da Internet e a violência como «uma grande perda para esta indústria». O toque de recolher, imposto na sexta-feira e que até ontem, 24 de julho, efetivamente impediu a maioria dos funcionários de chegar ao trabalho, «impactou a confiança dos compradores, a imagem do país e, evidentemente, a produtividade», acrescenta.
Emdadul Haque, presidente da Associação de Fornecedores de Serviços de Internet do Bangladesh, informou que a perda de Internet se deve a pelo menos 30% da largura de banda total ter desaparecido em centros devido a cabos danificados. Alguns relatórios descrevem isso como um bloqueio técnico liderado pelo governo, especialmente prejudicial para produtores de têxteis e de vestuário que estão a adotar a automação. «Tenho as máquinas e tudo pronto, mas não consigo colocar encomendas. É uma crise de 360º de todos os ângulos e em todas as frentes. Uma vez que tudo está incerto com as nossas comunicações cortadas, é sobretudo a confiança dos clientes que está a ser afetada», destaca MA Jabbar
Embora a taxa de desemprego do Bangladesh seja relativamente baixa (3,59% no primeiro trimestre de 2024), é mais alta para graduados do ensino superior, atingindo 12% em 2022. Isso fez com que houvesse um foco nas quotas de emprego para famílias de veteranos. O sector público, uma importante fonte de emprego, reserva 50% das vagas para grupos privilegiados, com 30% destinados a descendentes de combatentes da guerra de independência de 1971.
Após os protestos e mortes, o Supremo Tribunal do Bangladesh aumentou a contratação baseada no mérito para 93% dos empregos no sector público esta semana. No entanto, o impacto dos protestos e da sua repressão persiste, com o acesso à Internet a ser gradualmente restaurado.
Fazlee Shameem Ehsan, vice-presidente da Associação de Produtores e Exportadores de Vestuário em Malha do Bangladesh (BKMEA), salienta que a agitação e a perda de vidas enfraqueceram a imagem global do país. A interrupção da internet impediu a comunicação com os compradores, aumentando as suas preocupações. «Além disso, os compradores que nos tentaram ligar não conseguiam uma ligação sem interferências, o que levantou preocupação e a produção nas fábricas parou, o que acredito que terá aumentado ainda mais as preocupações», indica.
Do lado dos trabalhadores, Kalpona Akter, presidente da Federação de Trabalhadores de Vestuário e Indústria do Bangladesh (BGIWF), afirma que a falta de informações devido ao corte de Internet impede a avaliação do impacto nos trabalhadores. «Até as fábricas serem reabertas, não conseguimos avaliar o impacto sobre os trabalhadores», aponta.
Os líderes da indústria pediram ao governo para repor a Internet, acreditando que isso resolverá os problemas de importação e exportação. No entanto, há preocupações sobre a possível vitimização pela política internacional devido a esta situação. «Acredito que o governo deve usar a diplomacia para lidar com a situação e tranquilizar a comunidade internacional para que eles possam confiar em nós», apela Fazlee Shameem Ehsan.