Setembro 17, 2024

Têxteis sintéticos estão ganhando terreno

Cerca de metade (11 de 23) das marcas e varejistas internacionais de vestuário que responderam à pesquisa da Changing Markets Foundation confirmaram ter aumentado o uso de têxteis com fibras à base de combustíveis fósseis, principalmente poliéster.

Uma pesquisa da Changing Markets Foundation revelou um aumento no uso de têxteis sintéticos por varejistas como Inditex e Shein, com a organização afirmando que as políticas da UE estão promovendo essas fibras em detrimento do algodão e da lã orgânicos.

Fonte: Portugal Têxtil – https://portugaltextil.com/texteis-sinteticos-estao-a-ganhar-terreno/

O estudo da organização sem fins lucrativos realizado com 50 empresas concluiu que as grandes marcas de moda estão aumentando o uso de têxteis sintéticos poluentes, “aprofundando seu compromisso com a fast fashion, apesar das crescentes preocupações ambientais”, afirma a Changing Markets Foundation em comunicado.

O relatório, divulgado no encerramento da London Fashion Week, destaca que as marcas de fast fashion dependem cada vez mais de materiais à base de combustíveis fósseis, como poliéster. Esses materiais, destaca, são baratos, versáteis e essenciais para a rápida rotatividade do vestuário na fast fashion. No entanto, liberam microplásticos nocivos e produzem resíduos e poluição em massa.

Cerca de metade (11 de 23) das marcas e varejistas internacionais de vestuário que responderam à pesquisa da Changing Markets Foundation confirmaram ter aumentado o uso de têxteis com fibras à base de combustíveis fósseis, principalmente poliéster. Apenas três indicaram ter reduzido seu uso. Várias quebraram a promessa de reduzir a utilização de fibras sintéticas que tinham feito na última pesquisa em 2022 e houve empresas que se recusaram a responder.

A Inditex, por exemplo, revelou que usa um volume maior de sintéticos do que qualquer outra marca pesquisada pela Changing Markets Foundation. O uso de tecidos fósseis pela gigante da fast fashion cresceu em um quinto desde a última pesquisa. Já a Shein declarou a maior proporção de fibras sintéticas em relação às naturais, com 81% de sua produção sendo feita com materiais provenientes de fontes fósseis. A Boohoo, por sua vez, relatou um aumento nas fibras sintéticas, que agora representam 68% das fibras usadas, um aumento de 4%. A marca de fast fashion do Reino Unido foi recentemente obrigada a parar de fazer greenwashing pelos reguladores. A Lululemon, identificada com estilos de vida saudáveis e também acusada de greenwashing, ignorou a pesquisa deste ano, mas seu relatório anual de 2022 colocou o número em 67%, indica a Changing Markets.

Os têxteis à base de combustíveis fósseis são baratos e versáteis, sendo vistos como essenciais para o rápido ciclo de produção e descarte conhecido como fast fashion. A baixa qualidade e as taxas de reciclagem quase nulas fazem da fast fashion uma fonte significativa de poluição e liberação de microplásticos.

Apesar das crescentes preocupações públicas e científicas e da reação regulatória, as grandes marcas estão se agarrando aos produtos sintéticos e usando as táticas de distração e atraso da indústria dos combustíveis fósseis, destaca a Changing Markets Foundation no estudo.

Mais de 30 propostas legislativas entrarão em vigor em todo o mundo nos próximos anos, incluindo um Tratado da ONU sobre Poluição Plástica esperado para o final deste ano. A UE prometeu aumentar a qualidade da roupa, reduzir o desperdício e a poluição, combater o greenwashing e o consumo excessivo. Mas o tratado mundial pode ser diluído e algumas iniciativas da UE estão sendo criticadas. A promessa de reduzir microplásticos não intencionais em 30% foi reduzida, em parte “para um mero folheto”, aponta a organização, que é mais dura com o projeto de lei anti-greenwashing da UE por “usar uma metodologia criticada que atualmente negligencia a poluição por microplásticos e outras preocupações ambientais, levando a resultados ‘completamente enganosos’. Isso pode fazer com que as empresas promovam legalmente itens de fast fashion como mais sustentáveis do que vestuário de algodão ou lã orgânicos de alta qualidade, uma situação que irrita o setor das fibras naturais”, explica a Changing Markets Foundation.

“A moda está em um momento crítico, com grandes marcas duplicando o modelo da fast fashion, inundando o mercado com tecidos descartáveis e poluentes. Essas empresas continuam a apostar fortemente em fibras plásticas, mostrando pouca intenção de mudar e recorrendo a táticas emprestadas da indústria de combustíveis fósseis para distrair e atrasar o progresso real. Embora os reguladores estejam começando a agir, devem permanecer vigilantes. Precisamos de uma ação forte e decisiva para afastar a moda da sua dependência de combustíveis fósseis e em direção à criação de roupas de alta qualidade que as pessoas queiram manter por mais tempo”, afirma Urska Trunk, diretora sênior de campanha da Changing Markets Foundation.